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Rádio Café – Casa de Vó

Por Mônica França - 21 de Setembro de 2020

Bem-vindo novamente! Escolha uma mesa, faça o seu pedido e aprecie um conto sem moderação.


-Olá, já vai fazer o seu pedido?

-Claro. Um expresso e um pão de queijo.

-Pronto. Bom apetite.

-Claro, já irei ligar o rádio.

Voltamos com mais um Eu não tinha o que fazer e fui escrever e no quadro Conte seu conto de hoje teremos a participação da ouvinte Mei Mei com o conto Casa de Vó pelo selo Memories. Lembrando aos nossos ouvintes que para participar de nosso quadro basta enviar seu conto em .pdf para o e-mail eunaotinhaoquefazer@fuiescrever.radiocafe.br com a temática de um de nossos quatro selos Madness, Memories, Erotics ou Horror. Sem mais delongas, Conte seu conto está no ar.

Casa de avó é tudo de bom e sempre temos boas lembranças do lugar. Almoço de domingo, chocolate, brincadeiras mil. Lembro, por exemplo, de um fato que marcou a minha infância na casa da minha avó. Foi quando nós agarramos uma cachorrinha através da grade do portão. Estávamos na casa dela, no bairro do Tatuapé, e vimos, meu irmão e eu, uma cachorrinha na rua. Nós a chamamos e eu a agarrei pelo pescoço através da grade do portão. Gritei para meu irmão correr e trazer a chave para colocarmos nossa cachorra para dentro. Obviamente os adultos vieram ver o que estava acontecendo e, por fim, deixaram que ficássemos com ela. Ela acabou morrendo atropelada ao escapar da olaria do meu pai e algum tempo depois soubemos que ela era do filho da vizinha da minha avó. Ele chegou a nos ver com ela no portão e ficou com pena de dizer que a cachorra era dele, dada nossa alegria entusiasmada de criança.

A casa da minha avó era em um terreno comprido, com uma garagem na frente e duas casas no fundão. Vivemos inúmeras aventuras naquela casa, morta por um prédio. Lembro quando descobri, de forma dolorosa, como conselho e advertência de mãe são bons ou talvez agourentos. Nossa mãe fazia artesanato na época das flores de sabonete, daquelas de pétalas bem finas, encaixadas umas nas outras como uma rosa. Para fazer aquelas pétalas em especial, havia um aparelho de madeira com uma lâmina afiadíssima que era regulada de acordo com a espessura que se queria. Era como um fatiador de rodelas de batata horizontal, uma espécie de multifatiador do artesanato. Bom, mamãe nos avisou para não brincar com aquilo, pois era perigoso e podíamos nos cortar. Eu não ouvi…

Meu irmão e eu estávamos no quarto da minha avó quando eu resolvi brincar com o fatiador de dedão. Peguei um sabonete de glicerina, regulei a lâmina e zás, uma pétala belíssima de pele de dedão da mão direita. Sem querer encarar um “eu te disse” ou um “eu avisei”, botei o dedo ferido com carinho na mão esquerda, pulei a janela do quarto e fui embora quintal afora. Meu irmão, companheiro inseparável, me seguiu – ele sempre foi muito carinhoso e cuidadoso comigo, ao contrário de mim com ele. Quando chegamos ao portão, pedi que ele pegasse papel higiênico no banheiro.

Nesse ínterim, dado nosso silêncio, minha mãe desconfiou. Foi no quarto, não nos viu, mas como disse, a pétala foi caprichada e deixou um rastro de pingos vermelhos que se estendia da janela até o portão. Nem me lembro exatamente do que ocorreu logo depois, a não ser da ardência da água oxigenada em cima do ferimento. “Põe merthiolate.”, “O que arde?”, “Claro, porque o que arde cura!”, lágrimas teimosas escorreram de meus olhos. De qualquer maneira, aprendi que mãe tem sempre razão, só não tenho certeza se é pelo conselho ou pelo agouro mesmo!

E esse foi mais um Conte seu conto com a participação de nossa ouvinte Mei Mei. Agradecemos a todos os nossos ouvintes e até o nosso próximo encontro em Eu não tinha o que fazer e fui escrever.

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