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Rádio Café – O fantasma da Vila parte 3

Por Mônica França - 21 de Outubro de 2020

Bem-vindo novamente a nossa cafeteria. Acomode-se, faça seu pedido e aprecie um conto.


-Bom dia! Vejo que está com seu caderno hoje.

-Sim, vou escrever um pouco por aqui.

-Vai querer o de sempre?

-Sim, obrigado.

-Pronto, seu expresso com pão de queijo está servido. Vou ligar o rádio.

-Certo.

Estamos de volta com mais um Eu não tinha o que fazer e fui escrever. Contamos com a participação de nossos ouvintes no quadro Conte seu conto em um de nossos selos temáticos Madness, Memories, Erotics ou Horror. Hoje teremos a participação de Mei Lin Mei com seu conto O fantasma da Vila parte 3 pelo selo Horror. Estamos ansiosos para saber o que vai acontecer na história, então vamos a mais um Conte seu conto.

A adrenalina me colocou em um estado de alerta cujo resultado foi encarar uma silhueta estampada na janela do quarto. Sem certeza do que vi, saltei da cama e fui em direção à janela. Puxei a cortina, contudo, não pude deixar de ver a impressão de uma mão marcando território no vidro.

Embaixo da coberta, como uma criança desamparada, esperei o dia amanhecer. Rezava baixo pedindo perdão pelos meus pecados e esperançosa pela ajuda divina. Nem me lembrava a última vez que orei, apenas tentava me manter razoavelmente sã. Pouco a pouco a luz do amanhecer foi invadindo o quarto e me abraçando com o seu calor. Estava calma quando deixei a segurança da coberta e ousei ir até a janela. Abri a cortina e não encontrei resquício da mão assustadora da madrugada anterior. Seria somente um pesadelo decorrente do estresse? Fiquei tão impressionada pela advertência da senhoria? Ah, era quase hora de sair para o trabalho.

Assoviava uma melodia qualquer a caminho do escritório, enquanto no fundo da alma torcia para não ter mais nenhuma experiência estranha. Toquei a campainha e ouvi o clique de abertura do porteiro eletrônico. Empurrei a estrutura metálica apreciando seu rangido familiar, fechei o portão atrás de mim e dei uma espiada na rua. Pisquei os olhos com força ao notar uma silhueta disforme escorada no chorão da casa em frente. Apressei-me corredor adentro e só me tranquilizei minutos depois de começar o trabalho. Imersa em minhas obrigações laborais, fui incapaz de notar o tique-taque do relógio de ponto cobrar a minha saída. A colega da recepção já havia ido embora e eu segui sozinha rumo ao meu destino rezando baixinho mais uma vez.

Um suspiro de alívio foi o primeiro som que fiz ao entrar em casa. Para evitar qualquer situação inexplicável, liguei o rádio em uma estação de músicas alegres e fui preparar o jantar. O som permeava o ambiente e dissipava a sensação de angústia que me possuía há alguns dias. Servi-me um prato ainda fumegante e o calor daquele alimento me aqueceu por completo. Fiquei na cozinha alguns momentos apreciando o aconchego de uma refeição de qualidade. Apenas as músicas da rádio ecoavam noite adentro. Olhei o relógio da cozinha e levei um susto ao constatar que era quase dez horas. Dez horas… ao menos já estou em casa, pensei. Fui tomar um banho antes de ir para a cama onde adormeci como uma criança inocente.

“Cadê?… “Cadê o meu marido?” – a lamúria invadiu meus tímpanos e me despertou de um sono profundo. Com o coração descompassado, arregalei meus olhos e não consegui mexer meu corpo. Em vão buscava sair da posição em que me encontrava. Estava deitada de barriga para cima com os braços ao lado do tronco e as pernas estendidas na direção da janela. Mirei a janela e notei um movimento dando forma à cortina como se alguém estivesse escondido atrás dela. Meus olhos eram a única parte de mim com vida. Continuei encarando a cortina e para minha surpresa uma fresta permitiu a entrada da luz do luar. Uma pequena fresta tornando-se maior a cada segundo. O quarto estava iluminado e agora eu podia ver um volume atrás do tecido encolhido a um canto da janela. Para meu desespero, notei alguns dedos agarrando a borda da cortina sob a luz da lua. A respiração quase em suspenção mantinha em mim somente as funções essenciais de sobrevivência. Ainda não conseguia mexer meu corpo, entretanto a cortina era remexida por aquela mão misteriosa.

E chegamos ao fim de mais um Conte seu conto. Agradecemos a participação de Mei Lin Mei com a continuação de sua história. E esse foi o Eu não tinha o que fazer e fui escrever de hoje. Até nosso próximo encontro, queridos ouvintes e escritores.

-Já acabou?

-Sim, porém gostaria de mais um café.

-Claro.

-Vejo que está escrevendo.

-Sim, Mei Lin Mei me deixa empolgado. Essa continuação foi muito boa.

-Concordo. Aqui está seu café.

-Obrigado. Veja, chegou um cliente.

-Já vou lá. Se desejar mais alguma coisa é só me chamar.

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