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E a minha raiva?

Por Mônica França - 27 de Maio de 2021

Bem-vindo ao mundo Minako. Voltará o nosso escritor a ouvir? O que ele pensará a respeito de Minako?


E a minha raiva?

Liguei a televisão para ver alguma série e constatei em silente desespero que eu não era capaz de ouvir um único som. O que Minako fez comigo?

Sentado sem conseguir mover um músculo testemunhei meus pensamentos mais críticos tomarem conta de mim. Por que eu aceitei aquele rádio? Devia tê-lo jogado fora assim que aquela luz macabra começou a brincar com minha cabeça. Meus olhos fitavam incoerentes um comercial na televisão cujo volume estava no máximo. Não ouvia sequer um zumbido.

Eu sou um inútil, estúpido. Eu sou o único responsável por me deixar levar pela curiosidade. Será que eu me apaixonei pela voz de Minako? Minako, juro que você vai me pagar. Deve haver alguma explicação lógica para tudo isso. Esquizofrenia? Dissociação da realidade? Estresse delirante? Sentia meu sangue aquecer minha pele enquanto minha mente gritava com Minako. A agitação fora tanta que levantei do sofá com um pulo só. Retomando a lucidez, fui para a cozinha.

O meu objetivo era ligar o rádio e trazer Minako para uma conversa séria. Cara, talvez não seja uma boa ideia, afinal posso ser levado para o mundo dela mais uma vez. Pacto… o que foi aquele pacto que fiz? Qual a verdadeira intenção de Minako? O rádio inerte permanecia no balcão. Não poderia dizer se havia qualquer som saindo dele. Não tinha nenhuma luz bruxuleante, mesmo após inseri-lo na tomada. Parecia um rádio morto. Um pensamento tenebroso me possuiu. E se quem estava morto fosse eu? Seria Minako uma entidade do além? Passei as mãos pelos cabelos e afastei tais ideias mórbidas. O silêncio, contudo, devorava meu ser por completo.

Fatigado, deixei meu corpo cair pesadamente no sofá. Perdi a noção de tempo ao murmurar incontáveis vezes por Minako. Minhas pálpebras pesadas insistiam em manter meus olhos fechados. Ao dar por mim, ouvi a voz cuja familiaridade fazia meu coração tremer – só não podia dizer se de medo ou prazer. Notei a força de uma presença me observando. Ergui minha cabeça para encontrá-la, mas fui reprimido.

“Você não vê, você ouve Minako!”

O poder da voz dela fez meu corpo retesar no sofá, assim como todos os pelos do meu corpo arrepiarem. Cadê a raiva que eu sentia?

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