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Um sussurro, um toque

Por Mônica França - 2 de Junho de 2021

Bem-vindo, caro leitor. Pronto para mais um episódio de Minako? Aproveite a leitura.


Um sussurro, um toque

O poder da voz dela fez meu corpo retesar no sofá, assim como todos os pelos do meu corpo arrepiarem. Cadê a raiva que eu sentia?

Absorto em meus pensamentos, fui interrompido pelo hálito que invadia meu ouvido. Incapaz de virar em direção ao fôlego cuja delicadeza arrepiava minha orelha, entreguei-me ao máximo àquela sensação de êxtase e vulnerabilidade de quem experimenta a dualidade de uma nova relação. Mal acabara de pensar sobre o desejo de Minako quando senti o toque sutil de dedos brincando em minha orelha.

A gentileza dedilhava meu lóbulo em movimentos rítmicos cujo deslizar dançante brincava pela borda da orelha até encontrar a fossa triangular. O jogo continuou enquanto meu corpo era dominado por ondas intermitentes de arrepios. Senti um calor inesperado ao mesmo tempo em que Minako escorregou seus dedos em minha cabeça tampando meu ouvido com a palma de sua mão. Nesse momento, ouvi um som parecido com estática. A adrenalina acelerou meu coração. Seria o rádio?

Tentei me desvencilhar de Minako, contudo era impossível. Sua mão livre havia alcançado minha outra orelha e eu sentia como se estivesse com fones de ouvido. Não sei se eu voltara a escutar, mas eu ouvia o som abafado de uma melodia. Minako mantinha minhas orelhas cativas. Meu corpo não respondia aos meus pensamentos e eu não conseguia me livrar daquela situação. Aos poucos me acalmei o suficiente para ouvir Minako. Ela dizia para eu escutá-la. “Como?”, eu pensava. Desisti de tentar escapar de seu domínio e foi quando o inusitado me alcançou.

Assim que deixei de me debater em vão desejo de fuga, ela transferiu suas mãos para minha testa. Firmemente segurou minha cabeça e então lambeu minhas orelhas. Incondicionalmente gemi. Ainda atordoado pela minha própria reação, escutei algo. Sacudi minha cabeça e pude discernir a voz de Minako cuja presença já não existia mais. Levei um tempo para entender o que ela dissera. Então eu compreendi.

“Ouve Minako no rádio.”

Meus pés arrastaram o chão até a cozinha. O aparelho brilhava mais vivaz do que nunca. Meus olhos arregalaram e meu coração acelerou quando notei as palavras do rádio invadirem meus ouvidos. Eu voltara a escutar!

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