Abri a porta
Por Mônica França - 8 de Junho de 2021
Bem-vindo caro leitor. Uma porta foi aberta. O que virá a seguir?
Abri a porta
Meus pés arrastaram o chão até a cozinha. O aparelho brilhava mais vivaz do que nunca. Meus olhos arregalaram e meu coração acelerou quando notei as palavras do rádio invadirem meus ouvidos. Eu voltara a escutar!
Atônito, toquei minhas orelhas cuja temperatura avermelhara meus dedos. Apesar da comoção diante do rádio e do retorno da minha audição, mantive o máximo possível a minha calma interior. Estendi o indicador ardido da direita até o botão de volume do rádio. Com o botão firmemente preso entre o polegar e o indicador, girei-o ao máximo. Fui atingido por uma onda sonora de estática que me obrigou a dar alguns passos para trás. Decidido, fitei o aparelho temperamental.
Em poucos instantes fiquei em uma espécie de transe induzido pela dança monótona da luz radiante do rádio. Contudo, a monotonia cedeu ao caos de uma melodia pesada e sombria. Minhas emoções entraram em estado de alerta quando me vi em frente à porta de Minako. Sim, aquela porta com símbolos indecifráveis, um pentagrama e uma forma de mão no centro. Taquicardíaco (com razão!), intuitivamente pousei minha mão na forma da porta. Uma corrente elétrica passou por mim e iluminou os desenhos e símbolos da porta. Só então pude distinguir algumas runas e hieroglifos misturados a outros símbolos desconhecidos por mim.
Ouvi passos do outro lado da porta. Ansioso, esperei por Minako enquanto meus ouvidos eram massacrados pelo som angustiado da porta se arrastando em agonia. Quanto mais a porta abria e a minha mão era afastada dela, mais ansioso eu ficava. Senti um calafrio percorrer minha espinha ao ser inundado pela escuridão detrás da porta. O cômodo para o qual eu abrira passagem me dava medo, muito medo. Paralisado, escutei apenas uma ordem.
“Entre! Minako quer falar.”
Encarei a escuridão que se aproximava dos meus pés. Sem pensar nas consequências da minha decisão, pisei sem muita ousadia a escuridão do chão a minha frente ao escutar Minako me chamar mais uma vez.